A escrita, de forma geral, era possível de ser realizada por um cego sem que soubesse o Braille, desde que este aprendesse datilografia ou compreendesse as formas das letras e as desenhasse de próprio punho. Isso ainda podia ser feito com total independência. O "x" da questão era a leitura! Como uma pessoa cega poderia ler o que escreveu na máquina de datilografia ou em uma folha de papel? O sistema de escrita e, principalmente, de leitura Braille foi o primeiro a resolver essa questão. Através de um método lógico de pontos em relevo, distribuídos em duas colunas de três pontos para cada símbolo ou letra, uma pessoa cega pode ler, através do tato das pontas de seus dedos, o que, com um aparelho especial denominado reglete e uma pulsão, "desenhou" anteriormente. Ou seja, pode ler e escrever com suas mãos! O problema desse método ainda hoje é o de ser um sistema tão específico que acabou por se restringir aos cegos.
Essa questão particular foi eliminada a partir de meados dos anos 90 pela introdução dos editores de texto dos micro-computadores. A informática, como o Braille, entrou na vida das pessoas cegas como um vertiginoso meio de integração social, abrindo um horizonte infinito de informação, educação, cultura, mercado de trabalho e comunicação. Com os editores de texto, ledores de tela e sintetizadores de voz conjugados podem trocar e-mails com pessoas de qualquer parte do mundo, ler com total independência qualquer jornal internacional ou brasileiro, livros escaneados, listas de discussão e jogos de entretenimento feitos especialmente para os deficientes visuais.
Essa "coisa" de informática foi tão desbravadora que hoje podemos conversar ou trocar textos através de e-mails com surdos sem mesmo um e outro saberem que quem está do outro lado da linha de comunicação tem alguma característica especial. Nossos softwares podem ler toda a tela do computador, apenas uma linha escolhida, uma palavra ou mesmo letra a letra, quando temos alguma dúvida sobre o que está escrito. Mas, como tudo que é bom tem seu defeito, a informatização do segmento dos cegos depende muito dos recursos financeiros individuais, da atualização das instituições para cegos, das faculdades e escolas regulares em absorver essas novas necessidades especiais.
Outro problema é o fato de que passamos a escutar o que antes líamos com as mãos e podíamos ir absorvendo a construção ortográfica das palavras. Quando o computador lê um texto para um cego não diz se cego se escreve com "c" ou com "s" e a sonoridade é a mesma. Possuímos bibliotecas, diria melhor, fitotecas, de até dez mil títulos gravados que não podem nos dizer ou relembrar se casa se escreve com "s". É óbvio que dei exemplos idiotas, mas isso acontece com palavras de ortografia mais difícil. Nesse caso, o método Braille ainda é único, pois nenhum doido vai colocar um computador para ler letra a letra de um texto que ocupe a tela inteira!
Hoje em dia, apesar de todas as dificuldades que temos, a tecnologia torna um indivíduo cego muito mais habilitado a tarefas antes impossíveis. A dificuldade maior está na sociedade perceber essa evolução e acreditar mais em nossa participação!