segunda-feira, 20 de abril de 2009

computador

Muitas pessoas se perguntam como cegos conseguem digitar no teclado de um computador. A maioria imagina que possuímos um teclado especial em Braille ou, ainda, que nos utilizamos de computadores com softwares do tipo "comando de voz", que nos obedecem ao mandarmos executar tarefas, ou seja, sem utilizar o teclado.
Existem, realmente, teclados especiais para vários tipos de deficiência, inclusive a nossa. Para nós, porém, não constituem uma grande vantagem, na maioria das vezes, nem pequena, já que o teclado comum, o de todos os computadores, nos oferece todas as condições de digitação que necessitamos para realizar tal tarefa.
Para começar, percebam que todo teclado, por convenção internacional de datilografia proveniente das antigas máquinas com esse nome, possuem pontos de referência em posições estratégicas para uma boa localização tátil do teclado. Dessa forma, as letras "f" e "j" possuem um ponto em relevo que, quase sempre, não são observados pelas pessoas que não sejam profissionais de digitação ou pessoas muito rápidas nesse serviço. Assim, caso já não o tenha feito antes, você pode sentir que nas teclas dessas letras há um ponto pequeno e, em geral, da cor da tecla, na parte central inferior, perfeitamente perceptível pelos dedos. Utilizamo-nos deles para colocarmos os indicadores e, a partir daí, encontrarmos todas as teclas que necessitarmos.
Com as mãos nas teclas alfabéticas centrais a partir dos indicadores na "f" e "j", dedos médios na "d" e "k", anelares na "s" e "l", mínimos na "a" e "tecla de acentuação/pontuação" e, finalmente, com os dedos polegares na barra de espaço, podemos alcançar as outras facilmente. Por exemplo, subindo-se uma carreira do teclado com o dedo médio esquerdo alcançarei o "e" e se continuar mais uma carreira nessa subida, chegarei ao "3". Posso também abaixar o dedo indicador direito e encontrarei o "m", ou no teclado básico, teclar o "h" indo uma tecla para a esquerda do "j".
Na parte direita do teclado, a existência desse ponto na tecla "f" e "j" se repete na tecla "5" do teclado numérico, que nos posiciona nessa parte do teclado em específico.
Como podem notar como as teclas nunca fogem de suas posições, não existe mistério em um cego digitar em um micro computador. Com o auxílio dos ledores de tela/sintetizadores de voz, softwares sonoros que podem segundo nossa configuração ir dizendo cada letra que está sendo digitada naquele momento, a tarefa torna-se fácil. Caso escutar letra a letra seja especialmente aborrecido para o sujeito, este pode desconfigurar tal propriedade, digitar tudo e ir corrigindo os erros depois, escutando tudo de uma vez e parando nos erros audíveis para consertá-los. Tais softwares ainda podem ler, além da tela inteira e letra por letra, palavra por palavra ou linha por linha, abrindo o leque de opções.
Existem pessoas que enxergam que são lentas na digitação, como outras muito rápidas. Conosco ocorre o mesmo. Tudo é uma questão de prática, necessidade e habilidade pessoal.

O Braille, o Computador e a Ortografia

Ler e escrever sempre foram as preocupações básicas dos pais para com seus filhos em idade escolar. A alfabetização é sempre um período de curiosidade e descoberta para as crianças: vão aprendendo a desenhar letras que, fantasticamente, possuem som e juntas, que maravilha, quer dizer algo que já conhecem! O surgimento do sistema de escrita e leitura criado por um cego - cujo sobrenome lhe deu a designação, Sistema Braille - passou a abrir novas portas para a comunicação, educação e cultura de pessoas cegas.
A escrita, de forma geral, era possível de ser realizada por um cego sem que soubesse o Braille, desde que este aprendesse datilografia ou compreendesse as formas das letras e as desenhasse de próprio punho. Isso ainda podia ser feito com total independência. O "x" da questão era a leitura! Como uma pessoa cega poderia ler o que escreveu na máquina de datilografia ou em uma folha de papel? O sistema de escrita e, principalmente, de leitura Braille foi o primeiro a resolver essa questão. Através de um método lógico de pontos em relevo, distribuídos em duas colunas de três pontos para cada símbolo ou letra, uma pessoa cega pode ler, através do tato das pontas de seus dedos, o que, com um aparelho especial denominado reglete e uma pulsão, "desenhou" anteriormente. Ou seja, pode ler e escrever com suas mãos! O problema desse método ainda hoje é o de ser um sistema tão específico que acabou por se restringir aos cegos.
Essa questão particular foi eliminada a partir de meados dos anos 90 pela introdução dos editores de texto dos micro-computadores. A informática, como o Braille, entrou na vida das pessoas cegas como um vertiginoso meio de integração social, abrindo um horizonte infinito de informação, educação, cultura, mercado de trabalho e comunicação. Com os editores de texto, ledores de tela e sintetizadores de voz conjugados podem trocar e-mails com pessoas de qualquer parte do mundo, ler com total independência qualquer jornal internacional ou brasileiro, livros escaneados, listas de discussão e jogos de entretenimento feitos especialmente para os deficientes visuais.
Essa "coisa" de informática foi tão desbravadora que hoje podemos conversar ou trocar textos através de e-mails com surdos sem mesmo um e outro saberem que quem está do outro lado da linha de comunicação tem alguma característica especial. Nossos softwares podem ler toda a tela do computador, apenas uma linha escolhida, uma palavra ou mesmo letra a letra, quando temos alguma dúvida sobre o que está escrito. Mas, como tudo que é bom tem seu defeito, a informatização do segmento dos cegos depende muito dos recursos financeiros individuais, da atualização das instituições para cegos, das faculdades e escolas regulares em absorver essas novas necessidades especiais.
Outro problema é o fato de que passamos a escutar o que antes líamos com as mãos e podíamos ir absorvendo a construção ortográfica das palavras. Quando o computador lê um texto para um cego não diz se cego se escreve com "c" ou com "s" e a sonoridade é a mesma. Possuímos bibliotecas, diria melhor, fitotecas, de até dez mil títulos gravados que não podem nos dizer ou relembrar se casa se escreve com "s". É óbvio que dei exemplos idiotas, mas isso acontece com palavras de ortografia mais difícil. Nesse caso, o método Braille ainda é único, pois nenhum doido vai colocar um computador para ler letra a letra de um texto que ocupe a tela inteira!
Hoje em dia, apesar de todas as dificuldades que temos, a tecnologia torna um indivíduo cego muito mais habilitado a tarefas antes impossíveis. A dificuldade maior está na sociedade perceber essa evolução e acreditar mais em nossa participação!